No interior do Brasil, é comum as pessoas se reunirem em família, ou mesmo em comunidade, para contarem "causos" que vêm de antigas gerações. Na minha terra não era diferente.
Contavam que nas sextas feiras era comum à meia noite, passar uma mula, que ao trotar fazia sair faíscas dos seus cascos e que essa mula não tinha cabeça. As más línguas diziam que era a alma de alguma mulher que traiu o marido com o padre da Igreja Católica da cidade. Diziam que aquelas mulheres que cumpriam promessas difíceis eram prováveis candidatas à mula sem cabeça após morrerem.
Outros diziam que em determinadas fazendas, apareciam fantasmas de fazendeiros que, quando em vida, enterraram tesouros embaixo da casa e estavam ali na esperança do resgate dos seus pertences. Havia também o caso de um empregado negro, que "abusou" da filha do patrão e foi morto por ele e seus empregados de forma muito cruel. Ele foi preso em uma corda e jogado numa pedreira e enquanto pedia perdão para não morrer, era puxado e jogado novamente até que suas carnes começaram a se soltarem do corpo. Nesse movimento de vai-e-vem batendo contra as pedras ele acabou morrendo, mas nunca desapareceu dos olhos e ouvidos de seus algozes e da família, sempre aparecendo na estrada para pedir uma chance de nova vida.
Na minha cidade tinha um padre alemão que falava muito mal o português. Ele criou uma banda de música que tocava nas festas da Igreja, como quermesses e também durante as procissões. O pessoal que promovia o Carnaval na cidade, sem recursos para contratar músicos de fora, foram conversar com o Padre para contratar a banda da Igreja para tocar no Carnaval e ganhar um dinheirinho para a Igreja. O Padre foi taxativo na resposta: "Não criei Bunda para tocar no Carnaval, minha Bunda só toca em festa do Igreja".
Muitas outras histórias serão contadas em outra oportunidade.