sexta-feira, 27 de junho de 2014

A SOCIÓLOGA DEVE TER CONFUNDIDO AS COISAS PENSANDO NO MANIFESTO COMUNISTA DE 1848.





O MANIFESTO COMUNISTA
Mil oitocentos e quarenta e oito foi um daqueles anos tumultuados que entraram para as
páginas da história. Representou um ano de revoluções na maioria das grandes
capitais da Europa, com derrubada de dinastias, proclamação de comunas e a
entusiasmada comemoração da igualdade humana do alto das barricadas. Os efeitos foram
tão apocalípticos que ainda se faziam sentir mais de meio século depois, durante a
deflagração da Primeira Guerra Mundial. Entre todos esses acontecimentos revolucionários
de 1848, é provável que tenha sido a publicação do Manifesto comunista o que mais causou
impacto duradouro na história — ainda que, ironicamente, tenha tido pouquíssima
repercussão no ano em que foi publicado.

Friedrich Engels, rico industrial simpatizante do comunismo e provavelmente o único amigo
 que Marx conseguiu manter durante toda a vida. Seu bom senso, o tato e a capacidade
 de comunicação foram ingredientes cruciais na criação do Manifesto.

O comunismo já existia antes de 1848, como uma mistura incômoda de ideais utópicos,
socialismo e igualitarismo — descrito no Manifesto como um “espectro” que rondava a
Europa —, mas, até a publicação desse documento, ele não tinha forma, filosofia ou projeto
coesos, nem era um movimento unificado. A publicação do Manifesto em Londres, em
fevereiro daquele ano, mudou totalmente esse quadro.

Seus autores eram dois revolucionários alemães que passaram a maior parte da vida na
Inglaterra, onde também morreram. O filósofo político Karl Marx e o industrial Friedrich
Engels já trabalhavam juntos havia quatro anos quando foram encarregados, pela Liga
Comunista, de redigir o documento no final de 1847. Engels, o melhor comunicador da
dupla, esboçou o primeiro rascunho e expressou-se, intencionalmente, numa linguagem que
seria compreendida pela nascente força de trabalho industrial, que vivia em condições
estarrecedoras nas novas cidades industriais europeias. Marx, que sempre teve problemas
para cumprir prazos, conseguiu redigir o manuscrito final à base de conhaque e charutos em
abundância. O processo inteiro durou apenas seis semanas, e, como se pode observar a
partir do resumido capítulo final, Marx, como sempre, não conseguiu escrever tudo o que
pretendia.Karl Marx, obstinado, pobre e genioso com seus amigos ou colegas, mas brilhante
 em suas observações a respeitodo mundo contemporâneo. Sua presença marcante no texto
 do Manifesto fez com que o movimento que a partirdele emergiu se ligasse a seu nome.

O Manifesto comunista ainda é a mais clara, facilmente compreendida, provocante e
instigadora expressão da filosofia socialista escrita. Foi traduzido para quase todos os
idiomas do mundo e concorre com a Bíblia e o Corão na lista dos best-sellers editoriais. A
edição original foi praticamente ignorada em um mundo no qual o povo já se encontrava em
revolta, porém, a longo prazo, o Manifesto comunista influenciou e inspirou revolucionários
bem-sucedidos, como Lênin, Stálin, Mao Tsé-tung, Ho Chi Minh, Fidel Castro, Pol Pot e
muitos outros. Durante boa parte do século XX, 40% da população mundial foi governada
por pessoas que juravam fidelidade a suas doutrinas. No final do século, dezenas de
milhões perderam a vida em operações de limpeza ordenadas diretamente por líderes que
reivindicavam o rótulo de “marxistas”.

O Manifesto é o tratado político mais erroneamente entendido e interpretado na história,
ou senão o mais equivocado deles, dependendo das convicções políticas de cada um. Mas
também é mais que apenas um manifesto: é o esboço de uma revolução na história, na
filosofia, na sociologia e na política. Como tal, continua a ser um documento importante

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