Todo final de ano a preparação para as festas, viagens e o período de
chuvas trazem junto imagens de longos congestionamentos nas estradas e
nas ruas das grandes cidades.
Na última segunda-feira (12), por exemplo, a cidade de São Paulo
registrou, pela manhã, o segundo maior engarrafamento de sua história,
de 245 km, em razão das fortes chuvas que atingiram a capital.

O problema agravou-se nas últimas décadas graças à concentração de
pessoas nas cidades, à falta de planejamento urbano, aos incentivos à
indústria automotora e ao maior poder de consumo das famílias. Isso tudo
provocou o que os especialistas chamam de crise de mobilidade urbana,
que acontece quando o Estado não consegue oferecer condições para que as
pessoas se desloquem nas cidades.
Segundo o relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”,
80% da população latino-americana vive em centros urbanos e 14% (cerca
de 65 milhões) habita metrópoles como São Paulo e Cidade do México.
Ocorre que esse aumento contínuo da população urbana não foi acompanhado
de políticas de urbanização e infraestrutura que resolvessem questões
como moradia e transporte.
A má qualidade do transporte público e o incentivo ao consumo faz a
população optar pelo transporte individual. De acordo com o Observatório
das Metrópoles, a frota de veículos nas metrópoles brasileiras dobrou
nos últimos dez anos, com um crescimento médio de 77%. Os dados revelam
que o número de automóveis e motocicletas nas 12 principais capitais do
país aumentou de 11,5 milhões para 20,5 milhões, entre 2001 e 2011.
Esses números correspondem a 44% da frota nacional.
São Paulo é a cidade que mais recebeu veículos nas ruas: 3,4 milhões,
no período analisado. Enquanto a população da capital paulista cresceu
7,9% na primeira década deste século, o número de carros aumentou 68,2%.
Para especialistas, três fatores contribuíram para o crescimento da
frota de veículos no país: o aumento da renda da população, as reduções
fiscais do Governo Federal para as montadoras e as facilidades de
crédito para a compra de carros.
Como resultado, na maior cidade do país, o paulistano leva mais tempo
indo do trabalho para casa do que numa viagem para outra cidade. Segundo
uma pesquisa realizada pelo Ibope, 77% dos paulistanos classifica o
trânsito como "ruim" (55%) ou "péssimo" (22%). A pesquisa aponta ainda
que o tempo médio gasto para os deslocamentos diários é de 2 horas e 49
minutos.
Prejuízos
Os congestionamentos causam prejuízos ao país, acidentes e afetam o
trabalho de milhões de pessoas todos os dias. As perdas financeiras,
somente no Estado de São Paulo, foram calculadas pelo governo em R$ 4,1
bilhões por ano.
O custo dessa crise também afeta o bolso do consumidor. Os caminhões
parados no trânsito gastam mais combustível e fazem menos entregas. As
empresas são obrigadas, então, a gastar mais com o serviço, colocando
mais veículos nas ruas e repassando o custo para o preço dos produtos.
Além disso, há uma piora da qualidade da saúde dos moradores, uma vez
que a fumaça dos veículos é considerada a maior causadora da poluição
atmosférica. As pessoas sofrem mais de doenças respiratórias e estão
mais sujeitas a câncer de pulmão (pesquisam relatam que a exposição a
duas horas no trânsito paulista equivale a fumar dois cigarros).
Pedágio
Em 1997 foram criados os rodízios para diminuir a circulação de
veículos em determinados horários na capital paulista. Também foram
feitas ciclovias (17,5 km) e campanhas de conscientização. Mas nada
disso resolveu o caos no trânsito.
Também foi incentivado o uso de motocicletas, que ocupam menos espaço
no tráfego. Porém, elas poluem mais do que veículos novos e são as
principais causadoras de mortes no trânsito. Segundo o “Mapa da
Violência 2011”, do Instituto Sangari, o número de vítimas fatais no
trânsito brasileiro subiu 23,9%, de 1998 a 2008; entre os motociclistas,
o aumento foi de 753,8%.
Por isso, cada vez mais especialistas defendem a mobilidade urbana
sustentável. Uma das principais mudanças seria o investimento em
transporte coletivo e o desestímulo ao individual.
Entre as medidas sugeridas – e uma das mais polêmicas – está a cobrança
de pedágio urbano. Ele consiste em cobrar uma tarifa dos motoristas que
circulem em determinadas áreas da cidade. O modelo foi implantado pela
primeira vez em 1975, em Cingapura, e se espalhou por países europeus.
Em São Paulo, há projetos que tramitam na Câmara para cobrar motoristas
que trafeguem na região central. As tarifas variam de R$ 1 a R$ 4,
valor que especialistas acham pouco para que a medida dê resultado.
Há ainda propostas de aumento da malha ferroviária – atualmente, 60% do
transporte brasileiro é feito em rodovias. São Paulo, por exemplo,
possui apenas 65,3 km de linhas de metrô, enquanto Santiago do Chile
(com metade da população paulista) possui 83,2 km e Nova York, 479 km.
Todos esses pontos são avaliados como soluções para as demais capitais
brasileiras e mesmo para cidades de médio porte, que já enfrentam
problemas semelhantes.
Fique Ligado
O problema dos transportes está relacionado a outros problemas que, em geral, são estudados em Geografia. Antes de mais nada, é preciso inserir a questão do trânsito no interior dos problemas das grandes metrópoles. Pode-se pensar no caso da cidade de São Paulo como um exemplo do probelma no Brasil. Finalmente, vale a pena lembrar em uma das soluções de curto prazo que sempre é mencionada quando se fala do caos no trânsito: o pedágio urbano. |
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