O Brasil chegou a ter 10 milhões de índios. Hoje, eles são pouco mais de 800 mil, ou 0,4% da população nacional. Se numericamente eles são poucos culturalmente, porém, os índios têm uma enorme riqueza. São cerca de 180 línguas faladas por mais de 200 povos espalhados por quase todos os estados, sendo que cada comunidade é dona de um universo social próprio. A variedade passa pela maneira de pensar - sobre a vida, a morte e o tempo -, pelo modo de organização política e econômica e também pelas experiências históricas de contato com a civilização branca.
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Entretanto, a ideia de uma escola indígena capaz de respeitar e valorizar os conhecimentos e a cultura locais é recente no país. Na lei, o tema foi contemplado pela primeira vez na Constituição de 1988. Na prática, ainda há muito a construir. Garantir educação específica para cada uma das etnias que existem no Brasil não é uma tarefa fácil. Estima-se que apenas 2,2% das crianças que frequentam o 3º ano do Ensino Fundamental falam a língua indígena-mãe, um dos menores percentuais da América Latina.
"Não há uma comunidade indígena padrão. Por isso, devemos pensar na educação desses povos como algo flexível, democrático e que leve em consideração a língua, a vontade e a realidade das comunidades", explica Betty Mindlin, doutora em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A oferta de uma educação voltada para as necessidades de cada tribo depende especialmente da formação de professores indígenas. E esse é o principal desafio hoje. De acordo com o Censo Escolar Indígena, realizado em 1999, dos 4 mil professores que atuam em aldeias apenas 17% têm o Magistério Indígena e só 1,5% completaram algum curso superior. "Precisamos de educadores capazes de combinar dois mundos distintos, por vezes opostos, para garantir o direito à pluralidade cultural, combater o racismo e o preconceito e fundar uma cidadania verdadeira", complementa Betty.
Foi pensando em como oferecer uma educação cidadã para povos nativos que a professora e consultora Natura, Cintia Nardo Marques Gonzaga, moradora de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, criou um projeto de formação continuada para professores indígenas e elaboração de material didático batizado Kalivono. O projeto beneficia os índios da etnia Terena, que vivem em dez aldeias a cerca de 10 km do município de Miranda, também no Mato Grosso do Sul.
“Desde a minha graduação eu trabalho com questão indígena. Gosto de trabalhar história, memória, cultura e identidade indígena. Daí partiu a iniciativa de formação de professores, mas nós percebemos que mesmo amparado em leis, eles sentem dificuldade de trabalhar com as crianças a sua língua materna, pois apesar da educação indígena adequada ser assegurada em lei, os professores acabavam não tendo material e nem capacitação para trabalhar com esses alunos nas sala de aula”, conta Cíntia.
Segundo a professora, trabalhar o letramento inicial, já em sala de aula, tendo contato com a língua materna desde educação infantil e ensino fundamental, permite que as crianças Terenas aprendam sua própria cultura e seu processo de socialização a partir do ensino da língua. Pelo projeto que já formou 40 professores e mais cerca de 300 crianças indígenas da comunidade de Miranda, Cintia foi contemplada com o Prêmio Natura Acolher 2015.
A professora planeja aplicar o dinheiro do prêmio na impressão de uma tiragem maior de material de livros didáticos. "Começamos a dar um novo significado ao processo educativo da comunidade, colocando a escola como espaço capaz de assegurar o acesso a conhecimentos gerais sem negar as especificidades culturais e a identidade dos grupos", finaliza a consultora.
Movimento Natura
11/08/2016
11/08/2016
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